quarta-feira, 31 de outubro de 2012

DOENTE



Meu coração chora
De tão apertado pelo ramo de espinhos
Que o sangra, dilacera, e pede a outra face.
Por isso meu peito dói,
Porque cada palavra afiada
No meu peito é cravada
Me fazendo ajoelhar
Porque minhas pernas não aguentam
Tremem como se não houvesse chão
Ou quisessem se desfazer
Diante do jardim
Onde as rosas são regadas com meu pranto,
Pelas lágrimas enfermas
Deste coração moribundo
Doente por te amar.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

PERPÉTUO DESPERTAR



Ontem abri os olhos e sonhei
Que no Sonhar o poder foi usurpado
Seu monarca havia sido destronado
E nele agora eu seria o rei.

Com um poder que jamais havia sonhado
Minha palavra, neste reino, agora era a lei
Então às criaturas da noite ordenei:
"Este mundo não será mais despertado!"

Qual a surpresa eu tive ao descobrir
Que num pesadelo infindável este mundo já vivia
Como sonâmbulo perambulando em eterna agonia
Num sono turbulento, definhando sem sentir.

Tal foi esta visão que ao final não suportei
E quebrei o círculo do mestre encarcerado
Mas ao despertar deste sonho amaldiçoado
Num pesadelo pior ainda me encontrei

Percebi, então, a cada novo despertar
A armadilha na qual eu me encontrava:
Era contra mim que a roda sempre girava
Tecendo o destino que jamais vou escapar.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O CÁRCERE


Encontrei lá fora um espelho e nele vi refletidas
As paredes que não mais me cercam,
Mas que continuam a se erguer diante dos meus olhos.
A prisão continua dentro mim.

Nos olhares percebo a vigilância
Como se fossem torres nos muros invisíveis que ainda me rodeiam
Cercando minha liberdade com sua vastidão:
As muralhas são incontornáveis.

As chagas sentidas em meu corpo
Doem menos que a violência
De continuar a ser prisioneiro
Desse estigma que se tornou meu estandarte
Da desesperança estampada em cada esquina do meu caminho.

Para mim só restou a guerra
Que cuspirei de volta pra ti.
Porque para eles
O cárcere continua
Dentro de mim.