segunda-feira, 27 de setembro de 2010

PÁLIDOS MISTÉRIOS

Folheando as páginas de um livro encontrado
Entre o mofo e a poeira d'um jardim misterioso
Encoberto pelo musgo, um trabalho primoroso
Esplendidamente escrito e finamente ilustrado

Descobri mistérios duma profundidade alucinante
Que arrepiam a alma num tremor cabuloso
E cujos segredos nenhum iniciado ansioso
Deve revelar antes do amanhecer radiante

Triste sina de um cavaleiro errante
Neófito escravizado num sortilégio arrepiante
Na infindável noite deste volume empoeirado

Cada palavra lhe acentua uma febre delirante
O mistério ali encerrado proclama um aviso incessante:
"O poder em que se funda não deverá ser revelado!".



Poema dedicado ao grande mestre H.P.Lovecraft.

sábado, 25 de setembro de 2010

TALENTO

Forma e conteúdo não encontram harmonia
Nem métrica ou rima aqui encontrarás
Inexiste assim nesta paupérrima epifania
Belas palavras ou a genialidade que lhe apraz.

As tradições não foram postas de lado
Mas refinamento este arremedo não contém
Tal o pensamento inculto e atravessado
Deste homem do povo, o que ao douto não convém.

Não é preciso desenhar nestas linhas mal traçadas
Um diagrama para que tu consigas entender
Que a liberdade de Drummond e as bandeiras eriçadas
Proclamam a liberdade de, ao gosto, escolher.

Poesia formal ou versos brancos?
Temas polêmicos ou odes ao amor?
Formas e Idéias nos tocam aos tantos
E nem sempre o melhor consolo é a dor.

Como sei nada entender de poesia
E teu intelecto é um primor de julgamento
A mediocridade seria uma boa companhia
Se até pra ser medíocre não precisasse de talento.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

UM ENCONTRO FATAL (2000)

Dois anjos negros olham-se no espelho.
Suas imagens travestem-se de várias almas.
Depois desse encontro, nenhum será o mesmo.
Agora, sua cabeça pesa como um cubo de gelo
Inerte, feroz.
Dos seus olhos nenhuma lágrima se derrama
E seu coração agora é frio como pedra.
É essa imagem que me mata:
Um encontro fatal
Um mergulho no espelho.
Que falta sinto de ti, meu vampiro.
Uma parte de mim morreu contigo.