O meu tempo não pára como pararia antigamente,
Como a moderna tradição de um passado envolvente,
Sua presença na história no meu tempo não se iguala.
O meu tempo não pára como pararia aquele trem
Numa velha estação, donde meu coração vem,
Amando o que passou e do qual não mais se fala.
Em meu tempo muitos verbos se conjugam no futuro
Mas entre nossos tempos não existe estrada ou muro
Que separe o concreto, o fantástico e o real.
Eu sou dessa época a encruzilhada de dois mundos
A contradição incontornável de sentimentos tão profundos
A antítese e a síntese do particular e universal.
Encontram-se encarnados nesse tempo que não espera
Os elementos que apontam o devir de uma nova era
Envoltos na noite escura do pensamento e da razão.
Apreendo dessa vida o movimento mais constante
Desse tempo que não foi, mas está sendo a cada instante
O fim de tudo que começa, a negação da negação.
Mas o que outrora sob estrelas poderia ser negado
É a máquina de guerra desse tempo encarcerado
Nas entrelinhas do discurso de um orador eloqüente.
A rosa que lhe dou é a arma desse tempo
A magia que desperta de um passado sonolento
É o segredo do espírito que dele estava ausente.