segunda-feira, 22 de junho de 2009

AVISO AO MERCADO

Ó Mercado divino
Apalpa-me com tua mão invisível
Dai-me juros e dividendos
Mamata melhor, impossível!

Ó Mercado querido,
Dai-me vinte por cento ao mês
Empréstimos a fundo perdido
Orgias de rentabilidade e liquidez!

Mas Mercado, ouça o que digo!
Desde a Vale até em Furnas
Até nos grampos ouve-se o aviso:
Cuidado com a "voz rouca" das urnas!!!


(dedicado aos neoliberais da década de 1990)

RESPOSTA

Um sujeito, de verbas abastado,

Do povo quis saber o que desgosta.


Em busca de tão nobre resposta

Pôs a verba em movimento

Contratou um instituto, dito isento,

Que a si propôs a tal aposta.


Mas uma questão assim posta

Não poderia a bom termo chegar.


Antes da pesquisa acabar

Findado o dinheiro já estava

E o sujeito, cujas verbas arrotava,

Se inflamava de não ter desculpa a dar.


Como dele duvidar?

Pensava o honesto cidadão

Cujo defeito, de antemão,

Era não acreditar

Que a resposta a procurar

Na Suíça estava à mão.



TROVA PARA O ARCANJO

A rosa e o asno, o cravo e o espinho.

Não chegará ao roseiral sozinho

O homo-asno encantado à flor.


Assustadora é essa verdade

Em sua altura e profundidade

Encravada e forjada em dor.


É a Cruz que o cavaleiro carrega

A Vontade, e uma Espada cega,

Cortando os versos deste trovador.


(dedicado ao grande ocultista Eliphas Levi)

A ALMA E A LUTA


Desvelado o véu,
Descortinada a alma,
Sincera e calma
como água tranqüila de riacho doce.

Além da forma, a fôrma,
O molde
A trama
Do tecido fino
Do olhar que ama
A luta
A cor
O amor.

Descortinada a alma
Agora fala
O quanto ama
O quanto abala
O coração errante
De rubor infante
Ainda se cala.

Além da fôrma, da forma,
A luta
A alma.

domingo, 21 de junho de 2009

PATHOS


Cair de Joelhos

Aos pés de Chronos


A divina arché

A treva inicial

A lágrima derradeira

O telos infinito


A contradição inerente

A aura inerte

O eterno caminhante


O caminhar estafante

O prazer infante

O encontrar contigo.


II


Nova era imanente

Do extremo tão atraente

Um estranho tecido teço.


Pedido de moira aceito

Caminho caminhado e feito

Uma jornada do doce a ti.

POESIA DO ABSURDO

Poetas do absurdo, cortem minhas entranhas.
Cumpram a função que lhes foi conferida.
A dor que sinto é a dor da morte.
É hora de destruir este mundo
Não há mais tempo a perder.
A cada hora que passa os vermes roem
Os pedaços e os restos deste velho mundo,
Que não é mais o reflexo dos nossos sonhos.
A ferrugem corrói toda essa estrutura
Montada pra fazer o que somos.
Lá fora o povo bate à porta.
Logo a derrubarão.
As almas infames e degeneradas infestarão o castelo.
Tome em sua mão a espada.
Ela cortará a sua mente e mostrará o caminho.
Agora eles consomem tudo.
Os degenerados entraram.
Estão percorrendo todo o interior do castelo.
Estão dormindo na minha cama,
Desvirginando as minhas filhas,
Emputecendo todo o ambiente,
Transformando o castelo num mausoléu.
Sinto por todo lugar um cheiro de sangue mofado,
Enxofre e ossos queimados.
Nada tão diferente da carne dos animais que comemos a todo dia,
Com seu sangue coagulado e seu gosto verde.
Olho para mim e tiro minhas vísceras.
Tome! Este é o teu presente!
As vísceras de um traidor,
De um renegado.
A minha cabeça eu ofereço a vocês, juízes,
Que serão sempre meus algozes.
Que querem de mim? Falem alto!
Desejo ouvir minha sentença e me declaro:
Culpado, culpado, culpado!