terça-feira, 31 de maio de 2011

VIDA DE CADELA

Interpelado por aquele olhar pedinte
De tristeza profunda e presença tão ausente
Tocou meu coração de maneira tão pungente
A miserabilidade de uma vida que beira o acinte

Me diga como pode o homem ser tão vil
Tratando a inocência cruelmente e com desprezo
Será que não se sente nessa consciência o peso
Da maldade que se faz sem precisar nenhum ardil?

Quando até a benevolência se torna rejeitada
Por um ser cuja existência é uma dádiva marcada
Pelas chagas deixadas em um corpo moribundo

É sinal que nossa alma está dilacerada
Impotente e conivente com a sociedade retardada
Que maltrata os animais e ainda quer dominar do mundo.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O VERME

Na solitude e no silêncio dessa noite fria
Quando tanta falta o teu beijo me faz
Meu desejo, que sempre foi tão voraz,
É imensamente maior do que tua insegurança previa

Se nosso "estar no mundo" parece diferente
E as tempestades vêm como vão embora
A emoção que do meu coração aflora
Sob os lençóis só avista o teu olhar ardente

Vida tão boa quando esse olhar ardia
Entrelaçando o amor com essa picardia
De saliva deslizando em tua epiderme

Por isso, para mim, não existirá martírio
Pois o que eu quero é me afogar em teu doce delírio
E quando eu morrer, o que restar, fica para o verme!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

NÃO HÁ HONRA AO NORTE DO EQUADOR

Dizem que ao sul não há pecado, sim senhor!
Por causa de nossa latinidade "sem cheiro nem sabor"
Mas não invada meu quintal companheiro, por favor
Só porque não há honra ao norte do Equador.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

SARJETA

Meu coração está dilacerado
Esmagado na engrenagem deste mundo
Atirado num abismo tão profundo
Triste, vazio e abandonado.

Como pedinte mendigando atenção
Rastejando pela rua, moribundo
Meu coração, detestável vagabundo
Não tem sequer quem lhe carregue o caixão.

Rejeitado desde o nascimento
Sua vida é um eterno sofrimento
Rapsódia mal contada e desprezível

No chão frio onde tem sido sua morada
Meu coração encontra a última parada
Na sarjeta, o seu lugar, o possível.