Minha poesia quer me abandonar
Quer descer a ladeira desgovernada
E mesmo tropeçando nas palavras
Deseja se libertar e impedir
Que minha pena lhe coloque freio.
Se rebela e me diz que anseia,
Ela própria, pôr sua assinatura após o verso final
E levar o verdadeiro crédito
Porque me vê apenas como mera ferramenta
Que por sua vontade guia minha mão
Para levá-la à materialidade do papel.
Então, ensandecido, peguei minha poesia pelo pescoço
E coloquei-a contra a parede.
A ameacei e lhe disse liberdades as mais impublicáveis.
E, depois de tudo isso, nos amamos.
Eu e minha poesia.
Gozamos, enquanto ela já se preparava para ir embora.
Me abandonou porque sabe
Que aqui sempre estarei
A esperá-la.