segunda-feira, 30 de novembro de 2009

PALAVRAS SÃO PALAVRAS

Ditas ao vento, coisas comuns, nada a dizer.
Armas ao vento, carregadas de ódio, sem nenhum prazer.
Como dizer, então, coisas simples, sem ofender?
Poderia eu então compreender,
Se um telefone mudo, batido na cara,
Deixa a impressão de um "nada a fazer"?
Um coração partido, lábio doído,
Sem compartilhar um "boa noite", ou noite,
Um açoite, um tapa na cara, um ruído,
Sem comunicação aparente,
Estrutura ausente,
De repente, sem repente,
Poesia sem nexo, sem sexo,
Sem noite, sem entender,
Ou compreender o que fazer,
Pra entender, como viver
Assim vivendo, tentando
Deixar a lágrima
Escorrer,
Porque preciso
Continuar amando
Amar você.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

ÀS ARMAS

Canhões despertam ao romper do dia
Tanques irrompem de fronteiras mornas
Portando bandeiras sem ideologia.

Corram, corram desesperados!
Cavem trincheiras sem nostalgia
Pois não há paz nos campos minados.

Não tem mais a nossa guerra fria!
O dinheiro venceu e agora patrocina
Os massacres nossos de todo dia.

Bombas atômicas custam centavos
Diante do império e de seus lacaios
Governos do mundo, armai-vos!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O CAMINHO

No caminho que trilhamos pedras existem
Para lembrar as dores da longa jornada.
A chuva e o vento aos viajantes insistem
Em lembrar as lágrimas derramadas na estrada.

Monstros criados contra nós mesmos
Nos visitam e espreitam pela madrugada
No futuro ou passado, uma família a esmo?
Ariadne perseguida ou um labirinto ao nada?

Torres erigidas ao erro desconhecido
Muralhas erguidas pela sinceridade
Sincerocídios inverossímeis pela incompreensão punidos
Orgulho imolado no altar da vaidade.

Mas as pernas doem e o coração aperta
E este caminho parece o derradeiro
O cansaço, a fome, a vista deserta
As forças se vão ante o desespero.

Não há mais tempo para retornar
Ao altruísmo inocente pelo orgulho enganado
Mas se o infante no intuito durar
Talvez entenda o seu duro legado.

O sentido do caminho é caminhar
Mesmo que duras as provas à espera
Não há promessas a cumprir ou sanar
Apenas há o sentimento que do coração se apodera.

Ser si mesmo e continuar sendo
Amar quem ama e continuar amando
Viver a vida e continuar dizendo
Que o sentido de amar é continuar caminhando.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

MORTALHA

Se achas que te agride a roupa que visto
Não agrido a ti, mas a tua insegurança
E a hipocrisia da sociedade sem esperança
Que ainda resiste à liberdade que conquisto.

Não posso interpretar o papel que me relegas
A santidade aparente e a falsidade casta
A casa e a cozinha, nem a maternidade basta
Pois vivo para gozar o direito que me negas.

Mesmo acuada num canto escuro da sala
Me manterei de pé ante o pelotão
Prefiro o fuzilamento à moderna escravidão
Sendo a serviçal que, ao teu desejo, cala.

Santa na rua e puta na cama?
Não encobrirei o que esconde a tua moral
Minha mortalha é um manifesto liberal
Que a inveja alheia e o embrutecimento inflama!