sábado, 3 de dezembro de 2011

PASSIONAL

Minha poesia quer me abandonar
Quer descer a ladeira desgovernada
E mesmo tropeçando nas palavras
Deseja se libertar e impedir
Que minha pena lhe coloque freio.
Se rebela e me diz que anseia,
Ela própria, pôr sua assinatura após o verso final
E levar o verdadeiro crédito
Porque me vê apenas como mera ferramenta
Que por sua vontade guia minha mão
Para levá-la à materialidade do papel.
Então, ensandecido, peguei minha poesia pelo pescoço
E coloquei-a contra a parede.
A ameacei e lhe disse liberdades as mais impublicáveis.
E, depois de tudo isso, nos amamos.
Eu e minha poesia.
Gozamos, enquanto ela já se preparava para ir embora.
Me abandonou porque sabe
Que aqui sempre estarei
A esperá-la.

2 comentários:

Leandro de Assis disse...

Uma explosão poética na qual o autor não tem controle sobre a poesia, ela grita e salta através de palavras e versos. Nesse momento parece que algo ilumina a mente do autor e a poesia flui naturalmente e não se pensa em outra coisa a não ser escrever.

Delirium disse...

A poesia não se submete ao poeta. Estabelece com ele uma estranha simbiose. Ao deitá-la no papel o poeta não sabe que caminhos ela vai trilhar... E a trilha pertence a ela. Cada poema tem uma trilha muito particular que é redefinida a cada leitura, cada sensação provocada... Refletir a produção poética na própria poesia é para poucos, assim como é para poucos os caminhos das pedras porque a maioria quer a glória de ser estrela única no céu mesmo que para alcançá-lo suba nas costas da própria poesia. A poesia não é o fim da jornada, é o limiar da estrada. Portanto, tome-a pela mão porque ela é cria sem dono e tem vontade própria, vida própria. Como diria uma poesia qualquer: o poema começa onde o poeta termina.