terça-feira, 29 de junho de 2010

TERRA DE NINGUÉM

Dê-me agora a parte que me toca
Desta terra fértil que te alimentas
Poucas mesas fartas e mil bocas sedentas
Pela angústia e injustiça que nos batem à porta.

As veias me saltam do braço dolorido
Que cultiva, ara e colhe teu sustento
Mas ao final do dia recebo em pagamento
Humilhação como a açoitar este lombo já sofrido.

Aquilo que Adão não lhe deixou em testamento
Tu tomas e usufrui como patrimônio seu
Mas se esta dádiva Deus nenhum lhe deu
Tu és um ladrão disfarçado e nojento.

A comida que te sobra e falta em minha mesa
Do chão que roubaste ela brota e aflora
É colhida por aqueles que tu vilmente explora
E que ainda condenas a morrer na pobreza.

A lágrima da criança de que falta o pão
Dos seus olhos vermelhos neste solo derrama
E o trabalho relegado à condição desumana
Avilta o homem, como um pai sem razão...

Em desespero não foge a mãe aos prantos
Ante à tristeza da fome que lhe ronda a vida
Reproduzindo à história uma prole desnutrida
Cujos frutos lhe foram tirados aos tantos

A tristeza do homem sem terra e sem vez
É o inverso da opulência do grileiro astuto
Que comemora a riqueza com um imenso charuto
Pois sobre os braços de outros sua fortuna se fez.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lindo e real poema. Parabéns!!!
Ezenete

Delirium disse...

É necessário sensibilidade para poetizar um problema.

É necessário coragem para problematizar um poema.

Em ambos os casos, a covardia, muitas vezes, exacerbe.

Certamente, não é o seu caso. Percebo aqui impressões de mundos (e de terras, quem sabe, novas influências?) que meus olhos não apreendem mas que a poesia me mostra claramente. E é através dessa ótica que vejo, mais distante até do que gostaria...

Carlos Vilarinho disse...

Valeu, cara, muito bom. Não quer mandar para o jornal literário?

Izabel Nascimento disse...

Olá, caro amigo...
O seu maravilhoso poema TERRA DE NINGUÉM foi belíssimamente declamado e apresentado no programa de rádio HORA DA VERDADE em Santo Amaro - Sergipe.
Fizeram o comentário a professora Ana Luzia da direção executiva do SINTESE e a assistente social Maria José. O programa foi ao ar hoje pela manhã - 24-07-2010 - e assim que editar a gravação envio para o seu e-mail.
Um abraço e que Deus contunue iluminando essa mente...
Izabel Nascimento.